Depois do vendaval,
a vida se anuncia:
renasce com o sol
que traz a luz do dia,
o silêncio da prece,
paz que prevalece,
o odor das flores
a revelar caminhos.
Revoada de pássaros
a refazer seus ninhos
e a esperança louçã
de se acreditar de novo,
no novo,
no amanhã.
Mistério a desvendar,
desbravar.
Quem sabe um bem guardado,
ou suposto legado.
Ah, não fosse o amanhã!
Não fosse o tempo,
senhor da razão,
que, com sabedoria suprema,
é bálsamo que alivia:
distanciando saudade e dor.
Os gritos amordaçados,
lágrimas e apelos
perdem força:
são amenos
até se dissiparem
ao vislumbrar salemas.
Depois do vendaval,
a brisa sopra leve
e descreve a rota dos sonhos
que caminham sobre as águas,
dantes turbulentas,
agora tranquilas e serenas.
Depois do vendaval
tudo volta ao normal:
vai a noite,
vem o dia,
cotidiano e fantasia
até o próximo temporal.
jan 07 2024
Depois do Vendaval!
nov 23 2023
Rio!
(…)
Quero:
ser rio que chega ao mar
vencendo as batalhas
de seu fluxo
ao tornear pedras,
colidir em rochas,
modelar-se à opressão das margens,
nortear as águas durante seu percurso,
único recurso para estancar a sede.
nov 23 2023
Subentendido!
Não explico a ausência.
Deixo rastros de resiliência
em sonoro silêncio
a ecoar de mim.
Disfarço minha tristeza
e grito em versos ritmados
cada linha que traço.
Não proclamo o amor.
Está explícito no que faço
e se não faço,
não há.
Não aponto caminhos.
A cada um cabe o seu.
Toda escolha, um dia,
leva ao mesmo encontro.
Não exacerbo o certo
nem restrinjo o errado.
As duas medidas pesam
em diferentes balanças
e a cada uma o seu conceito:
vale deixar subentendido
o que ainda pode ser feito.
Não dito regras nem as formulo.
Cada coração rege seu rumo
e à razão é dado o veredicto final.
Consequência é resultado de toda ação.
Só sei que nada sei
e o não saber
subentende-se:
explora o que não há.
Não apregoo a alegria,
nem descrevo o meu pranto.
Dissimulo a beleza
da poesia dos cantos.
Minh’alma procura mostrar ou
subentende-se em meu olhar.
nov 23 2023
O Poeta Chora!
E o poeta chorou!
Chorou pelo que podia ser
e não foi.
Por tudo que cultivou
e não deu.
Pela flor que poetizou
e morreu.
Chorou pela insensatez,
pela aridez que se assolou,
pela pequenez que se inflou,
combalido mais uma vez
por ter perdido o sentido
de tudo aquilo que fez.
Pela esperança equilibrista,
pelo fim do show do artista,
pela crueza fria que se estabeleceu,
pela paz que o mundo,
um dia,
creu.
Chorou convulsivamente
de uma só vez,
como uma criança
que, sem nada entender,
precisa, de repente, crescer,
castigada pelo que não fez,
esquecendo-se da bala que a amargou,
para encarar o mundo mau que hoje se instalou.
E o poeta chora!
Fora vencido nessa hora.
Chora por mim,
por você,
pelo que sonhou.
As lágrimas são palavras
que não quer dizer
agora.
nov 23 2023
Entrega!
Entrego-me ao crepúsculo das horas,
ao tempo que não se demora,
ao sonho impalpável irrompido da aurora
onde minhas mãos resvalam,
tremem,
teimam,
demoram
pelo cansaço da persistência.
Entrego-me ao intransitável,
às lonjuras sem demarcação
a transitar minha existência, minha solidão.
Às veredas purpurizadas,
aos canteiros de jasmins,
às belezas não sondadas que não vejo,
mas que existem sim,
aos sonhos interditados
sem avisos nem porquês,
ao desejo de ir,
apesar de.
À sensação de que vai passar
e permanece,
sem trégua,
em mim.
Aos mistérios a rondar,
ao ter que crer sem ver
e ninguém para revelar.
Ao definitivo do não eterno,
à certeza de haver um fim,
às perguntas sem respostas.
Meu silêncio a gritar
e ninguém a me ouvir.
nov 23 2023
Mundo Paralelo!
Então perco o chão
na transcendência,
eloquência
e impaciência
de levar meu imaginário
(sem elo)
a um paralelo
mundo são.
jul 25 2023
Talvez!
Talvez
o tempo reverta
a pálida esperança
em crescente certeza
e me traga a surpresa
de um bem inesperado
que nem sempre se alcança,
ou o amanhã retroceda
ao ontem ininterrupto
e o estenda ao futuro.
Caminho escuro.
E tudo fica na mesma.
História que tento mudar,
rima que não quer mais rimar,
poema que já não se faz notar:
enfatizado,
mastigado,
engasgado.
Talvez
o hoje vivido
tenha valido
uma eternidade
e meu eu distraído
não tenha medido
tamanha felicidade
nem notado as manhãs
de belezas louçãs,
momentos desprezados
na espera do amanhã
que talvez nunca venha
ou se faz de rogado.
Talvez
esses versos piegas
sejam fiéis mensageiros
de tempo verdadeiro,
de mensagens sinceras
e carreguem bagagens
de sonhos,
miragens,
gerúndio se estendendo
em todos os tempos
trazendo-me a chance
de continuar sendo
mesmo em um tempo já ido
sem nunca ter sido.
jul 25 2023
Ah, poeta!
Ah, poeta,
desenhista do lirismo,
observador das minúcias da alma,
detalhista de tudo que o cerca,
arquiteto de pormenores,
do que avista pelos arredores,
psicanalista que descreve a vida
e revela o além,
a sobrevida
e nada ou ninguém o detém.
Quando morre,
nunca morre de fato
e, em um impacto,
renasce na flor,
ressurge na alegria
ou na dor,
rebrilha no brilho da estrela
que se apaga,
conduz o frágil timoneiro
em sua barca parca,
pincela de cores espaços escuros,
amores falidos,
ocupando vazios
e intervalos obscuros.
Reacende a esperança que,
embora morta,
recomeça a verdejar
por entre estrofes
onde versos são reversos
das decepções
e hostilidades,
das injustiças
e desigualdades,
humanizados docemente em poesia,
na magia de transformar
espinho em fantasia,
na busca incansável
de amenizar a agonia.
O poeta é imortal.
Da alquimia,
a pedra filosofal
conquistada pelo sonho
que traduz
o mais recôndito interior
de sua alma.
Não, o poeta não morre.
Segue a sua luz.
Eterniza-se!
Eterniza-se em palavras!
jul 25 2023
Poeta!
O poeta sabe que não pode parar.
Nada o obriga a prosseguir,
a não ser a inquietude louca
ou o frenesi indomável
de combinar palavras
colhidas e equilibradas
na corda bamba imaginária
de um circo dentro de si
sem sombrinhas ou proteção,
palavras à vela,
despojo que revela
a verdade que pode ser sua
e se coloca nua,
exposta em uma janela.
Não, o poeta não pode parar.
Tem por sina dizer o que obstina,
tem por norte não temer a morte
visto que da alma lança mão,
alicerce da inspiração,
substrato da mente,
semente que entumece e cresce
enquanto o resto permanece em vão.
Sem poeta é mundo sem visão,
é olhar por trás da lente que embaça,
não perceber o pranto,
o riso,
a esperança,
o sonho escondido
por trás da vidraça,
dançando com versos
ao som da inspiração.
É ver a insensibilidade
virar coração.
É viver em um mundo triste
onde a realidade persiste
em ser apenas o que se é.