Busca!

Em busca de palavras,
na rota do sol,
sigo a rota do sol
quando o vejo bem longe
irradiando sua luz já branda,
expondo um entardecer tranquilo
de cores tênues,
pálidas,
antes do anoitecer.
Vou em busca de palavras
no lusco-fusco,
esparramadas,
abandonadas ao ocaso.
E minha alma se inunda
nessa cascata
que magia infunda,
aura abençoada,
tobogã dos sonhos,
ondulações de cores suaves
como o outono
de folhas caídas,
tapete verde-musgo
mesclado de amarelo-ouro.
Trilha para a fantasia.
Crepúsculo que finaliza o dia
e que sacia a alma
ávida do poeta,
transvestindo rotas em magias
ao nascer da mais etérea poesia.

Movimento!

Abre a janela.
Da alma e do mundo.
Lá fora o sol espelha.
Reflete o rosto dela.
O movimento da vida
convida a andar.
O som da natureza
chama sem falar.
Os jardins oferecem mel
de seu labor.
Flores se dão,
imensidão.
Captam olhar,
a mais recôndita emoção.
O perfume exalado inebria,
percorre caminhos intransitáveis.
Borboletas voam bailados,
esnobam cores,
suavidade,
sedução,
pecados.
Colibris levitam arrebatados.
Girassóis dispensam o sol,
adornam o redor
de seu cabelo.
Sobre a relva molhada,
os pés descalços
descarregam o stress
da jornada.
O horizonte beija a terra.
A noite vem cobrindo o sol.
Hora do arrebol.
Da nostalgia.
Não é noite nem dia.
Não espera a lua.
Nem sabe se virá.
Só a realidade
e o encantamento
de ter vivido o hoje.

Querer!

Já não sei quem sou,
onde estou,
para que lado vou.
Perdi-me na valsa da vida
sem chance de me achar,
sem contrapartida
para me engabelar.
Nada que me incentivasse a luta,
ousar a disputa,
perder ou ganhar.
Descompassei ao querer girar,
cambaleei por todos os cantos
sem ter onde me aprumar.
Ceguei-me à ilusão de encantos.
Quis parar.
Valsei a contradança
sem par,
sem aliança
imbuída de cumplicidade
na realização de sonhos,
e poder, um dia,
com eles voar:
sonhos que me vestiram
para me reencontrar.
Fugiram-me motivos,
sorrisos,
entusiasmo.
Secaram-me lágrimas,
sinais de emoção.
Não mais encontro condução
a me possibilitar continuar.
Abraço a poesia:
ela me reverencia,
me acompanha
noite e dia.
Com ela choro e rio.
Em segredo,
desabafo.
Agravo e desagravo.
Nela eu confio.

Talvez!

Talvez
O tempo reverta
a pálida esperança
em crescente certeza
e me traga a surpresa
de um bem inesperado
que nem sempre se alcança.
Talvez o amanhã retroceda
ao ontem ininterrupto
e o estenda ao futuro
ou tudo fique na mesma.
História que tento mudar,
rima que não quer mais rimar,
poesia que já não se faz notar:
enfatizada,
mastigada,
engasgada.
Talvez
o hoje vivido
tenha valido
uma eternidade
e meu eu distraído
não tenha medido
tanta felicidade
nem notado as manhãs
de belezas louçãs,
momentos desprezados
na espera do amanhã
que talvez nunca venha
ou se faz de rogado.
Talvez
esses versos piegas
sejam fiéis mensageiros
de um tempo verdadeiro
e mensagens sinceras,
carregando bagagens
de sonhos e miragens,
gerúndio se estendendo
em todos os tempos
trazendo-me a chance
de continuar sendo
mesmo em um tempo já ido,
mesmo sem nunca ter sido.

Eu!

Incógnita de mim.
Insolúvel teorema.
Solução e problema.
Simplicidade. Complexidade.
Mentira e verdade.
Imperfeição.
Eclipse solar.
Lunar.
Total,
parcial,
penumbral.
A busca da claridade.
Não e sim.
Começo,
meio (aturdida)
e fim.
Ilha perdida.
Arquipélago da vida.
Barco à vela.
À deriva.
Onde ancorar?
Brilho do sol.
Arrebol.
Crepúsculo e cores.
Primavera.
Beija- flores.
Borboleta.
Flor que não se encontra.
Eu:
nó,
nós.
Coluna.
Coliseu.
Amor.
A cotovia,
o canto,
a dor,
o pranto,
o riso,
o acalanto.
Pergunto-me:
onde me acho?
Em qual plano?
Rio?
Mar?
Oceano?
Ou apenas me engano?

Felicidade!

Coloca a alma na janela
e a luz que adentra por ela
descongelará o frio que ficou.
Quebra seu silêncio,
solta sua fala.
Há tanto a dizer:
tudo o que calou.
Liberta o que resvala,
verdade que abala,
motivo a que se rende.
Nada é para sempre.
O bem também acaba.
Não deixe que se vá
trilhar o mesmo trilho.
Agarra-se ao que edifica,
faz feliz e dignifica.
Escolhe outras cores,
viva outros amores,
muda as fragrâncias,
as flores,
dá novo sentido à vida.
Sai da zona de conforto,
desfaz os entrelaces
do que está morto.
Mergulha nas emoções,
ousa os turbilhões,
ancora em outro porto.
Abraça as chegadas,
acena às partidas,
busca o que precisa.
Sorri,
vive,
persegue o que creu
para que não se arrependa
de tudo o que ,um dia,
poderia e se perdeu.

Minha Poesia!

Junto-me à sensibilidade
e à tudo o que lhe faz parte:
o suave desabrochar da flor,
a beleza infinda do final da tarde,
à rima que se perde à revelia
e se arrima onde explode a euforia.
Ao verso que quer se declarar
e, de repente,
fala sem falar.
À angelical bailarina,
à arte que predomina
e desalinha o próprio coração
descompassado por tamanha devoção.
À canção que virou saudade,
com acordes que me persuadem
induzindo-me através do tempo
e passando devagar
por onde já nem lembro.
Junto o amor e a dor.
amar é sorrir,
é chorar.
À alma vigilante e inquieta do poeta,
usurpador de sonhos,
caçador de fantasias.
Às cores outonais da nostalgia
pincelando as manhãs da estação
embaçadas de orvalho
e de paixão.
E assim vou compondo.
minha poesia.

Manhã!

Amanhece.
Entrego-me aos braços da manhã
confiante na luz a me banhar.
Clarão.
Aninho-me em seu colo.
Decolo.
Alma desprendida alcança o céu
e o traz para dentro de mim,
e o faz fazer parte de mim:
liturgia ungida de sacramentos.
Portas abertas,
meu corpo é templo
a contemplar a letargia do momento
sacro,
na fé que em meu corpo guardo,
ainda que todas as mazelas do tempo
destoem a oração do dia,
a homilia,
surdas aos cânticos melodiosos da manhã,
à brisa que sopra a ternura do amor,
manto divino onde abrigo meu interior.
Regressa.
Com suavidade,
sem pressa.
Sua luz não escurece.
Perpetua-se em cada coração.
Resplandece em cada oração,
na esperança que o dia oferece.
Manhã que nasce feito prece.

Somos!

Invade a minha vida,
preenche o meu contexto,
poetiza-me em tua alegria,
protagoniza o meu texto.
Colore a minha paisagem,
reacende luzes apagadas,
sejas o sol de todo dia,
incandesce minhas madrugadas.
Floresce meu canteiro triste,
vibra o ardor que em mim existe,
ruboriza o tom vermelho,
refletindo teu corpo em meu espelho.
Ama-me de todas as formas
em cada instante,
o tempo inteiro.
Sou tua vontade,
tua fome,
tua metade.
Somos recomeços
dos amores verdadeiros.

Enamorada!

Quero entardecer contigo
ser o teu abrigo,
o final da tarde,
o teu arrebol,
onde cores descoradas,
fracas,
embaçadas
tornam-se caiadas
sem a luz do sol.
E, na linha do horizonte,
onde o céu se funde
com a terra ou o mar,
pendurar todos os versos
que a própria vida
vem nos ofertar:
eterna enamorada!

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