Medo!
De me despir das vontades
e nua de desejos e ensejos
perder minha identidade.
De desistir dos sonhos
e imbuir-me de marasmos,
cultivando um amanhã enfadonho.
De mergulhar no vazio,
dele não conseguir sair
e, por mais que eu tente,
nele persistir.
De perder a inspiração,
vítima da síndrome
do papel em branco
e fragmentá-lo
com meu pranto.
De que a sombra se interponha
e me impeça de ver a luz,
o belo,
o arrebol,
o sol.
De que pensamentos funestos
conspirem contra mim,
no universo,
e me retornem
ainda mais perversos.
De não encarar a verdade,
alienar-me à falsidade
e, por mais que me custe,
mascarar a realidade.
De não ter ousado,
não ter lutado,
não ter recomeçado,
não ter acertado,
mesmo tendo amado.
Medo de não perder o medo.
abr 19 2024
Medo!
mar 20 2024
“Mulher!”
Para ser mulher trouxe comigo
a lembrança de um abraço,
um carinho,
um afago
Um beijo de mãe,
de vó,
de tia…
Para ser mulher trouxe os caminhos pisados
por mulheres.
Caminhos que meus pés reinventam,
parindo de si mesmos novas direções.
Para ser mulher trouxe comigo
os olhos atentos,
brilhantes
e curiosos
Observei muito
e aprendi em silêncio,
para poder falar e ouvir,
para poder entender antes de ouvir,
para poder gritar antes de qualquer…
Para ser mulher trouxe comigo
a alegria de gerar uma ideia,
uma nova opção,
um canteiro,
um livro,
Uma música,
uma luz
e recolho do chão as pequenas sementes
que, espalhadas, nos deram alimento
às almas.
Para ser mulher entendi o que de nós mesmas
se pode aplacar
e o que de nós é necessário fomentar.
Aprendi os ciclos e os recomeços,
Aprendi a segurar as mãos pequeninas
e as mãos femininas.
Para ser mulher,
entendi a solidão
e sorri em irmandade.
Para ser mulher sangrei
e renasci muitas vezes.
Para ser mulher,
vesti-me de homem também.
Para ser mulher sigo
sendo, a cada dia,
outra ponta.
Daniela Camargo
mar 09 2024
Alma Antiga!
Sou do vento,
do tempo,
dos antigos cheiros.
Amante do sol,
das terras perdidas,
parte das batalhas
das guerras pagãs.
Quero as essências!
Alquimias sagradas,
profanos versos
dos sangues pisados.
Rubros!
Rubros!
Sou parte das brumas.
Feitiços violados,
das bruxas,
sou dona.
Vermelho!
Vermelho!
Das paixões internas,
dos conflitos profanos,
das canções, razão;
das profecias, certeza.
Parte das preces
quando ouço dos sinos,
o dobrar.
Sou feita de horas!
Infinito tempo.
Sorvo estrelas.
Descalça,
a terra louvo!
Feita de lua
em cada ciclo,
a prata, bebo!
Fada,
sacerdotisa,
deusa,
madona,
mulher!
Serena,
vestida ou nua:
de poemas, a pele banho;
os poros,
os sussurros,
o arquejar!
Maria Luiza Faria
mar 08 2024
Vieste!
Eu pedi que você viesse
e trouxesse-me em seus olhos.
Sem palavras exatas,
entre os versos
e indecisões do crepúsculo,
você veio.
Trouxe- me o céu:
o seu.
Trouxe-me suas estrelas.
O firmamento inteiro
no jeito particular de definir- me,
na forma mágica de decifrar-me,
sem chegar à pele.
Eu pedi que você viesse
e trouxesse-me em seus olhos:
sem ruídos imprevistos,
entre pausas
e consentimentos das madrugadas.
Você veio.
Trouxe-me o mar:
o seu.
Trouxe-me suas marés de poesia
no jeito particular de denudar-me,
na forma mágica de descobrir-me
sem ferir a alma.
Você veio
e trouxe-me o sal do sentir.
fev 27 2024
Manhã!
“Desenha uma manhã,
ainda que imperfeita,
mas onde nos caiba
e, em ti, eu esteja!”
(M. L.)
fev 27 2024
Eu?
Eu?
Incógnita de mim.
Insolúvel teorema.
Solução e problema.
Simplicidade.
Complexidade.
Imperfeição!
Eclipse solar.
Lunar.
Total, parcial.
Penumbra!
A busca da claridade.
Não e sim.
Começo,
meio(aturdida)
e fim.
Ilha perdida.
Arquipélago da vida.
Barco à vela.
À deriva.
Onde ancorar?
Brilho do sol.
Arrebol.
Crepúsculo e cores.
Primavera.
Beija- flores.
Borboleta que sonda.
Flor que não encontra.
Eu: nó, nós.
Coluna.
Coliseu.
Amor.
Cotovia de quem descreveu.
Canto.
Dor.
Pranto.
Riso.
Acalanto.
Pergunto-me:
Onde me acho?
Em qual plano?
Oceano?
Riacho?
Ou me engano?
fev 01 2024
Recomeço!
(…)
Recomeço do agora
sem pressa,
sem hora,
vazia do ontem,
esquecida do outrora,
fechada às lembranças,
lacradas,
fincadas
no cerne baldio
do meu coração.
(…)
jan 18 2024
Fragmentos!
(…)
De repente,
a madrugada
anuncia a alvorada:
branca,
esquálida,
pálida.
Um outdoor na calçada
clareia minha inspiração.
Vejo a noite virar dia,
a lua virar sol,
melodia ser canção,
sinfonia,
arrebol
e os versos captados
de onde se pôde chegar
compõem o poema-magia:
sonhos que ainda irei sonhar.
jan 18 2024
Preciso de Tempo!
Preciso do tempo!
Devagar,
a contento,
levando-me a passo lento por cantos que nunca vi.
Que venha de encontro
ao vento e em um alento,
comigo se deixar levar:
permitir-se atrasar,
extrapolar limites,
parar os pêndulos,
calar as horas,
deixar-me passar.
Tempo bendito,
preciso,
ainda que em mar revolto,
dar-me a mão para atravessar,
atracar em qualquer porto,
acenar ao que se vai,
e a quem queira,
abraçar.
Barco torto,
sem pressa de chegar ao fim.
Em cada cais
vivermos um pouco mais,
sem o temor do calendário,
surdo a regras e sermões,
unindo-se a mim.
Cavalheiro lendário
que ousou seu senhor dissuadir,
espera um pouco mais:
quero dar vida ao imaginário,
imagens ao que compor,
cobrar o que não vivi,
devolver o que vi demais
e, após vivermos tantas marés,
cumprir seu destino,
pé ante pé,
sem acelerar as horas.
Deixe que se vão embora,
siga no controle dos dias
conduzindo à revelia
minutos cronometrados
apressados e resolutos.
Faça cada minuto durar
cada vez mais.