Poeta!

O poeta sabe que não pode parar.
Nada o obriga a prosseguir,
a não ser a inquietude louca
ou o frenesi indomável
de combinar palavras
colhidas e equilibradas
na corda bamba imaginária
de um circo dentro de si
sem sombrinhas ou proteção,
palavras à vela,
despojo que revela
a verdade que pode ser sua
e se coloca nua,
exposta em uma janela.
Não, o poeta não pode parar.
Tem por sina dizer o que obstina,
tem por norte não temer a morte
visto que da alma lança mão,
alicerce da inspiração,
substrato da mente,
semente que entumece e cresce
enquanto o resto permanece em vão.
Sem poeta é mundo sem visão,
é olhar por trás da lente que embaça,
não perceber o pranto,
o riso,
a esperança,
o sonho escondido
por trás da vidraça,
dançando com versos
ao som da inspiração.
É ver a insensibilidade
virar coração.
É viver em um mundo triste
onde a realidade persiste
em ser apenas o que se é.