À Flor da Pele

Há por baixo da minha pele
tantos caminhos insuspeitos,
tatuagens sob a epiderme
que traduzem meus desejos.

Há na minha pele atalhos
que nunca foram explorados.
Nua, me exponho ao orvalho.
Por que nunca os macularam?

Por baixo da minha pele
há um jardim permitido,
um desejo que me impele
e me inunda de fluidos.

Há na minha pele fertilidade,
uma ânsia de ser tocada:
mãos hábeis trariam saciedade,
e a flor do amor seria brotada.

Por baixo da minha pele, há arrepios:
uma sede que água nenhuma sacia
que deságua em intensos rios
e molha os versos da minha poesia.

Há, na minha pele, um mar revolto
e uma ânsia de mergulhos viscerais.
Traduzo em versos tempestuosos
os meus desejos carnais.

Rabiscos

Posso jogar luzes ao vento
e ver o mundo se colorir.
Rabiscar meus sentimentos
e ver um novo pensamento surgir.
Quebrar barreiras virtuais
e ir ao firmamento.
Esquecer-me de medos reais,
libertar-me em sentimentos,
sentir meu corpo quente
em noites tão geladas
e deixar os dedos dormentes
escrevendo por toda a madrugada.
Derramar-me sobre papéis,
e fazer das letras asas em meus pés.
No mundo da fantasia,
entre meus versos e rimas
fiz da poesia o meu único bem.

Coração

O coração guarda emoções
que os olhos não escutam,
que a boca emudece,
que os ouvidos calam.
O coração perdoa
o que os olhos não veem.
Escondem na boca
a angústia das palavras.
O coração perdoa
o que os ouvidos sentem
no sussurrar das palavras.
O coração se expressa
quando o amor nasce.
O coração se alegra
e se expande
quando os olhos sorriem.
O coração vai à boca
quando a saudade aperta.
O coração sangra
quando a esperança
desaparece.
O coração da gente
é misto de amor.
É alegria,
é vento que canta
e dia que nasce.
O coração é um jardim
onde brota a amizade.
Nele plantamos sentimentos
que só ele conhece.
É tempo
ou um templo complexo
de emoções constantes,
diversas.
O coração lê o que vai
na alma do tempo.
Quem dera fosse possível
desvendar seus segredos,
percorrer seus caminhos,
filtrar seus vasos,
plantar sementes
e deixar sorrisos nas retinas
claras do amor,
no tempo templo
de todo o seu ser.

Nostalgia

O silêncio
o farfalhar das folhas
o perfume das flores
que desabrocham
no pulsar do vento
é melodia a embalar palavras
na nostalgia assombreada da tarde.

Versos Nômades

De onde vêm os versos?
Da mente conturbada,
do coração inquieto,
borbulhante,
da emoção alada
ou petrificante.
Do inconsciente iceberg
fincado em solo pedregoso,
irremovível,
viscoso.
Os versos vêm
do olhar atento,
dos pensamentos repentinos,
descuidados
ou programados.
Do tédio,
do tormento,
do silêncio contido
ou do frenético lamento.
Do riso desarvorado,
do amor alucinado.
Os versos vêm como ondas do mar.
Ora avançam, ora recuam.
Mas não cessam de ancorar
nas areias firmes da mente
onde acabam por soçobrar.

Entardecer

Quando a vida entardecer
quero continuar a viver,
ter belas recordações,
sentir outras sensações,
navegar através de experiências infindas
e desaguar nas emoções sentidas
sem me importar
com a fúria dos dias
ao entardecer.

Medo

O silêncio no ar
a tempestade a soar.
Medo do mundo,
da gente,
do que é terreno,
do existente.
As folhas na chuva,
a matéria de mim,
o medo da bruma,
da tempestade,
do eterno silêncio
no ar.

Mar

Além de mim existe o mar.
O mar em mim
inunda meus sentidos
me tornando água.
Ondas borbulhantes,
calmaria.
O vento espalha as ondas
na areia e desaparece.
Nada fica,
apenas a vastidão que se alonga
tomando os sentidos,
desfragmentando meus pensamentos.
A paz que tanto procuro,
que me faz viver.

Manhã de Outono

Se a manhã trouxe o vento outonal,
eu só soube das folhas secas
a compor cenários
tão sabedores de mim.
No acaso das linhas da minha mão,
li o necessário para que a lágrima furtiva
não fosse letra e música
de um dia em que as horas
tinham o compasso da memória,
do momento em que suas mãos tocaram as minhas.
O silêncio,
anotado nas páginas em branco,
as lições do existir
e o meu enrubescer
são o que sei
sobre estar distraído para o amor.

Horizonte

Hoje, queria escrever sobre o sorriso e a flor,
mas a urgência dos seus olhos
me fizeram só saber
que eu ainda busco no horizonte,
desenhado nas folhas avulsas,
sua chegada e suas histórias
dos mares do sul.
Hoje, no ensimesmado de tudo,
não permiti que a lágrima
profetizasse o sonho
e o quase mistério de seu corpo,
não fosse o fim
nem o começo
das alegrias inventadas
e dos beijos que não dei.
Há orvalho e tantas outras coisas,
mas eu desejo o horizonte
apenas.

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