Capítulo ao Vento!

Há um morro a desbravar
mil tropeços no caminho
um livro que vai ao meio
e todo um céu que adivinho.

Não há mal que me demova
atalho ou encruzilhada,
meus passos voam nos céus,
respondem à voz de Deus,
chegam ao cimo da escada.

Já prefaciei os sonhos.
Dei-lhes asas de condor,
capítulos feitos de vento,
um mundo de sentimentos
e palavras cheias de amor.

Verso Mudo!

Nas saliências dos segredos
ouvem-se os brados longínquos
das vozes passadas
que nos restam na memória
e nos marcam o espírito.
Profusas palavras
ecoam pelos sentidos
vazando a razão,
preenchendo o sonho,
e, num verso ausente,
entregamo-nos unos,
inquietos, perfeitos.
Silenciamos o compasso
do coração perene,
e nada nos resta,
para além da vida e do amor.

Poesia!

Poesia é um encantamento:
fala de amor mesmo que em lamento.
No silencio ou na melodia,
com o coração aberto ou rasgado
e mesmo com o peito apertado
o poeta perfuma os versos de amor.
Em ondas de vento,
pincela flores silvestres.
O poeta sonha, delira,
chora de amor e de dor.
Toca a lua, beija estrelas,
bebe do orvalho.
As palavras dançam segregando sonhos,
acalentando a alma
dos amantes da poesia.

Porto!

Fica muito longe o porto onde me ancorei,
distante dos mares turbulentos e frios
um porto fincado no meu silêncio 
e nas vontades guardadas.
Sim, já não se quer tanto como antes.
As lágrimas lavaram a areia dos olhos:
um cansaço do tempo.
Ainda bate um coração escasso de sonhos,
de dores que não dilaceram como antes,
hoje pulsa mais manso.
Minhas Lembranças são passarinhos ingênuos 
fazendo ninhos na tempestade.
E nos oceanos das minhas paixões,
uma maré de águas silenciosas
indiferente ao barco que carrega
viaja dentro de mim 
chegando onde preciso
e ancora nesse porto onde fiz morada.
Num mar mais tranquilo, 
numa ilha esquecida,
num porto qualquer.

Resenha

Poemo um amor,
um sonho a dois
imaginado
agora, experimentado.
Desenho versos represados,
em nós libertados,
vivenciados.
Despetalados
nos beijos roubados,
selados,
antes sufocados.
Poema de espera,
versos vividos,
intensos,
divididos,
meus e teus
ficarão guardados.
Guardarei as canções
ouvidas ao léu.
Tão nossas
as rimas de amor,
melodia que compomos
nos dias meus e teus.
Espalhei no tempo,
diluí.
Assim, tento não sentir
a dor de não perpetuar
as resenhas que fiz,
vivi
e senti partir.

Nudez

Desnudar a alma
é mostrar-se por inteira
dissolvendo mistérios
esquecendo a sensatez
mesmo que pareça insano
e assim recuperar a lucidez.

Vento

Veio na varanda
um vento no rosto:
quase velho
quase novo.
Nesta noite
quase primavera
de um quase
inverno ameno
quase frio
quase sereno.
Veio na varanda
um vento
que trouxe
seu quase cheiro:
ambrosia
quase agridoce
quase droga
que me entorpece
me agita
e me sufoca.

Vida

Vivo como se amanhã
fosse o dia da partida.
Partida não de mim,
mas das coisas sem raízes,
fugidias,
de chegadas e partidas,
de encontros, despedidas,
de dores e alegrias,
de saudades desmedidas.
Faço de mim uma grande via,
uma via larga de idas e vidas.

Divagações

Pensamentos distantes,
momentos de introspecção,
olhos fitos.
Pingos de orvalho caem
e deslizam suavemente pela relva.
Com a delicadeza dos ventos,
folhas caem
desnudando as árvores,
como se deixassem à mostra
uma alma nua sedenta de vida.
Meu olhar acompanha
o voo do pássaro,
como bailarino
a dançar entre as nuvens.
Embriago-me com a beleza
que se forma diante de mim.
Borboletas esvoaçam,
flores cantam,
arco-íris de mágicas cores,
imagem sobrenatural, arte divina.
Meus sentidos se voltam para a emoção,
acariciam meus delírios e meus sonhos,
fazendo nascer em meu coração
o imenso desejo de amar
e na minha alma
a mais perfeita inspiração.

Versos Alados

Quero palavras despidas
e versos ao natural.
Rimas não são exigidas,
mas, se rimar, não faz mal.
Quero a essência da poesia,
não importa que seja dolorida,
expressando agonia ou alegria,
arte que não me deixa oprimida.
E, na essência das palavras,
quero liberdade e precisão,
e que meus versos criem asas
fazendo do poema imensidão.
Versos alados rumo ao infinito.
Criá-los me deixa repleta:
é um relicário o meu manuscrito,
traduz minha alma irrequieta.
E, numa constante procura,
solto meus versos alados
onde as palavras, uma a uma,
buscam outros significados
que não estão no dicionário.
Por onde volitam
mesmo no mundo imaginário.
Nossas quimeras,
os versos realizam.

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