Realidade!

Realidade

Vaidades ocultas
orientando virtudes.
Máscaras de luz
corrompendo atitudes.
Egoísmo presente,
desencadeando a dor,
destruindo nascentes
que brotam amor.
Arraigadas verdades
Impedindo o saber,
confundindo os caminhos
dos que querem aprender.
Vontade incontida
de soltar o espírito,
das mentiras que inibem
o inevitável crescer.
Dar velas aos sonhos,
descortinando a visão.
desfazendo os nós
das amarras ao chão.
Sair da deriva
da falta de ventos,
da vida passiva
sem questionamentos.
Buscar outros rumos
mais cheios de norte.
Navegar os sentidos
na certeza da sorte.

Incubus!

Despiu-se da escuridão
com o corpo reluzente,
pálido à luz das estrelas
como pérolas transluzentes.
Mãos frias se erguiam
sobre o corpo imóvel.
Artérias latejantes
pulsando sangue flamejante.
Olhos lacrimejavam.
A pele rígida
garras arranhavam.
Ó, majestoso és tu!
De pele pálida
incubus.

Nada!

Ilusões perdidas,
sonhos impossíveis,
realidade distante,
sonhos constantes.
Horizonte
tão longe e perdido,
nada definido,
já quase esquecido.
A vida é tão pequena,
o tempo tão curto
e os sonhos tão grandes.

Grito!

Há um silêncio
grávido de palavras
que anseiam nascer.
Há palavras sendo abortadas
antes mesmo do amanhecer.
Há risos presos
em nós na garganta
feitos de lágrimas
que insistem em escorrer
pelo peso do silêncio.
Há gritos desesperados
ansiando amanhecer.

Destino!

É a vida que se fissura nas mãos
entrelaçadas no tempo
e as nuvens que se desdobram,
são crepúsculos perdidos.
É o mundo rodopiando
na instabilidade dos polos,
no eu que geme
a perda de ser vida.
São os dedos calejados
Agasalhando as palavras,
são versos perdidos
nas entrelinhas dos vocábulos.
São as louquices dementes
com que se sorvem venenos terrenos
e os atos crentes dos descrentes
jazem, dissimulados.
É a vida, a humanidade, a morte
no amor transformado de gente.
É o ato de renascer
parindo-se no choro bravio do parto.
É o ciclo que recomeça:
o teu e o meu,
nas páginas do destino.

Traços!

Traços abstratos,
esboços tímidos,
lampejos de insegurança,
linhas paradoxais
confluentes num só ponto.
A intersecção da alma,
forma empírica/erudita,
detalhe fosco à carvão,
tela sobre o cavalete.
O trem passa e ela fica:
lacuna de obra inacabada
à espera de imaginação.

Palavras!

Palavras soltas:
letras que caem,
verbos que versejam,
poesias que poetizam.
Palavras soltas
caem no papel,
versejando ideias,
poetizando dilemas,
desvelando sentimentos,
desnudando segredos,
profetizando a poesia.

Pranto!

Pranto
impermanente,
inscrito na pele
o tempo luz,
timbre de outros mares
canta a voz das fontes
e por vezes chora.
Se as fontes cantam
com voz de pranto
por que choram teus olhos?

Sou!

Eu
sou feita de fases
de todas as faces
criadas por mim.
Sou feita de erros,
acertos,
de certezas,
incertezas.
De segredos
e medos.
Sou feita de sonhos,
ilusões,
de esperança,
desesperança.
De risos e lágrimas.
Às vezes, cubro a nudez com lucidez,
às vezes, escancaro de vez.
Insensatez?
Não sei.
Sigo no tempo que encanta,
desencanta,
falece
sem súplicas,
sem preces.

Liberdade!

Mostrei o que sou.
O que realmente modula em mim;
fui contra as marés,
emergi de um abismo sem fim.
Cruzei linhas paralelas,
corri na contramão do vento, do tempo 
e me alcancei na última estação.

Rasguei minha carne, expus meu avesso,
o meu contexto
e toda a sensibilidade verbal, emocional,
escondida em contra senso,
sufocando o bem, endeusando o mal.

Postei nua minha identidade
e toda a verdade antissocial
chocando a realidade dura.
Regorgirtei iniquidades cruas
ingeridas por razão irracional
sob forte pressão radical.

Viajo sem malas.
Sem revolta ou bilhete de volta.
Sinto-me leve, nada que me pese,
sem as alças das parafernálias
que pendurei num tempo que já teve fim.

Sigo só: melhor assim.
Insana, estranha, profana
é o que pensam e podem pensar de mim.

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