Lamento!

Lamento pelo inconcebível,
pelo incabível,
pelo que poderia ser e não foi,
pelo que foi e não se pôde mudar.
Pelo desamor,
pelo botão de flor,
pelo não desabrochar.

Lamento a inocência perdida,
imagem denegrida
arremessada, distorcida,
cotidiano da vida.
Lamento pelo vandalismo,
pelo desprezível e insano
cenário de desafeto humano.

Lamento pela fome doída,
pegadas de idas e vindas
buscando um lugar ao sol.
Pelas palavras prometidas,
mal ditas, não cumpridas,
perdendo-se pelo arrebol.

Lamento a alma desprovida,
o descaso pela vida
e todo poder abusivo.
Lamento a lágrima rolada
e o coração corroído
da mãe pelo filho querido.
Lamento o filho nas mãos do bandido.

Lamento a existência atribulada,
o amanhã dilacerado,
o nascer inopinado,
o querer e nada ser.
A indiferença no olhar, que jaz,
o curvar-se ao onipotente.
Viver ou morrer? Tanto faz!

Lamento minha impotência,
procedimento estático
de nada poder transformar.
E em linhas mal traçadas
esboço, derrotada,
meu triste lamentar.