Chegada!

Chegaste
em um dia qualquer
de uma certa estação.
Sem aviso,
sequer,
nenhuma empolgação,
como quem chega sem querer,
dissimulando o querer ficar.
Como um bem maior,
um privilégio,
presença indispensável,
sortilégio,
burlando o fuso horário,
mudando o calendário,
o itinerário,
a hora,
o fadário,
senhor absoluto do tempo.
Chegaste.
Surpreendendo a manhã
ao entregar o cetro
para a tarde,
revelando sombras,
em vertical,
de pessoas vagando
sob o sol:
rito costumeiro e pontual
anunciando o meio-dia,
do dia em que escolheste
para chegar.
Entremeio de manhã e tarde,
das entrelinhas para o baluarte,
da surdina ao gesto de alarde,
na expectativa de espreitar a beleza,
roubar tons em gradação,
cores em formação
no momento exato do impacto
causado pelo sol tingindo o céu
e logo se perder no horizonte.
Foste.
Junto com as cores do arrebol
morrer, também, atrás dos montes,
renascer,
talvez,
um novo sol
a irromper no amanhã
com a manhã de cada dia.