Escrevo?

Escrevo:
a folha em branco me impele,
provoca-me,
convoca-me,
remexe meus neurônios,
sentimentos à flor da pele
querem que eu me revele,
que me rebele,
trace recônditos da alma
diante da ansiedade
que me transtorna
o momento em que me encontro.
Palavras se difundem.
Confundem emoções,
debatem-se em confronto,
emudecem as razões.
Escrevo:
um emaranhado de letras
embargadas na mente,
de início,
incoerentes,
mas que ganham sentido
de repente,
à medida que descrevo
a verdade (in)contida,
a palavra que não digo,
o silêncio que consente
em calar o que sinto.
Escrevo:
no papel em branco
– meu cais –
onde aporto meu barco,
onde choro meus ais,
onde volto e parto
e o branco do papel
já não é mais
molhado e pardo.
Descrevo a neblina
de pranto e de mágoa
expressando o que quero,
o que grava a minha retina,
porém que nunca revelo.
Escrevo?
Talvez!