Entrega!

Entrego-me ao crepúsculo das horas,
ao tempo que não se demora,
ao sonho impalpável
irrompido da aurora
onde minhas mãos resvalam,
tremem, teimam, demoram
pelo cansaço da persistência.
Entrego-me ao intransitável,
às lonjuras sem demarcação
a transitar minha existência,
minha solidão.
Às veredas purpurizadas,
aos canteiros de jasmins,
às belezas não sondadas
que não vejo, mas existem sim,
aos sonhos interditados
sem avisos nem porquês,
ao desejo de ir, apesar de.
À sensação de que vai passar
e permanece, sem trégua,
em mim.
Aos mistérios a rondar,
ao ter que crer sem ver
e ninguém para revelar.
Ao definitivo do não eterno,
à certeza de haver um fim,
às perguntas sem respostas:
Para onde vou? De onde vim?
Meu silêncio a gritar
e ninguém a me ouvir.